Uvas-da-praia
A vela que se lança à luz,
cansada das ilhas,
uma escuna singrando o Caribe
vai ao lar, pode ser Odisseu
indo ao lar no Egeu;
o pai, o marido,
a saudade, sob sulcadas uvas amargas, é como
o nome de Nausicaa que ao adúltero ecoa
nos gritos das gaivotas.
A ninguém isso traz paz. A guerra antiga
entre a obsessão e a responsabilidade não
acabará nunca e foi sempre a mesma
ao andarilho da escuma, ao que fica na costa
queimando as solas em direção ao lar, desde
que Tróia sua última chama suspirou,
e o seixo que o gigante cego içou da fossa, donde
do turbilhão emergem os grandes hexâmetros às
conclusões da maré exausta.
Os clássicos talvez consolem. Mas não o suficiente.
*
Sea grapes
That sail which leans on light,
tired of islands,
a schooner beating up the Caribbean
for home, could be Odysseus,
home-bound on the Aegean;
that father and husband's
longing, under gnarled sour grapes, is like
the adulterer hearing Nausicaa's name in
every gull's outcry.
This brings nobody peace. The ancient war
between obsession and responsibility will
never finish and has been the same
for the sea-wanderer or the one on shore now
wriggling on his sandals to walk home, since
Troy sighed its last flame,
and the blind giant's boulder heaved the trough from
whose groundswell the great hexameters come to the
conclusions of exhausted surf.
The classics can console. But not enough.
* * * * *
Derek Walcott nasceu em 1930 em Castries, em Santa Lúcia, no Caribe. Sua poesia completa (até 1984) e um Selected poems estão ambos disponíveis pela faber and faber.
Sea grapes, um de seus poemas mais conhecidos, foi originalmente publicado no livro homônimo de 1976.
A imagem é de uma ânfora, datada de 520 a.C., originária da Lacônia, e retrata Odisseu cegando com uma lança o gigante Polifemo.
No que eu também me lembro de Kaváfis, na busca pela Ítaca, na cidade que nos segue não importa aonde, na dor de fitar ressaca e só ver maré. A quem se dá afogar-se no mundo.